07/04/2025 | edição #0035

Quote: “Vocês dão três passos para frente e dois para trás” — Damodaran sobre o Brasil (Brazil Journal)

Stat: Brasil já chegou a ser 1,9% da alocação Global, hoje é 0,58% dos portfólios globais (@GRechMacro)

Watch: “SEGREDOS DA MENTE DE UM DOS MAIORES INVESTIDORES DO MUNDO”, Martin Escobari, chairman global da General Atlantic (Market Makers)

VARIAÇÕES SEMANAIS | COTAÇÕES DE DOMINGO, 30/03 (PRÉ-MERCADO)

A Black Monday da reação às tarifas do Trump (e o que está por trás delas)

Acordou no susto. Durante a noite por aqui, as ações asiáticas despencaram, com os principais índices do Oriente tendo um dos piores dias da história recente — ainda na reação às tarifas de Trump.

  • 🇨🇳 O CSI300 caiu mais de 5% e o yuan chinês caiu para seu menor nível desde janeiro;

  • 🇯🇵 O Nikkei 225 de Tóquio perdeu quase 8% logo após a abertura do mercado — e teve circuit breaker ao longo do pregão;

  • 🇭🇰 O Hang Seng de Hong Kong (.HSI) caiu mais de 13%, sendo a maior queda diária desde 1997.

Como esperado, os derretimentos na Ásia não ficam só na Ásia. As bolsas europeias já abriram em forte queda também — e a “Black Monday” já virou o grande assunto.

O mercado futuro americano também sinalizou fraqueza. O futuro do S&P 500 caia 4,2%, enquanto o do Dow Jones Industrial Average perdeu 3,5%. O Nasdaq caia 5,3%.

O motivo é um só: Tarifas do Trump

(Foto: Leah Millis | REUTERS)

Depois de tanta especulação, na semana passada, o presidente americano fez sua coletiva do ‘Dia da Libertação’, oficializando a imposição de tarifas a praticamente todos os países do mundo — inclusive algumas ilhas inabitadas.

  • Bem no estilo showman de Trump, ele literalmente mostrou uma tabela com as novas tarifas dos principais parceiros comerciais dos EUA, comparando com a tarifa que cada um deles cobra dos EUA.

Em geral, ou Trump igualou a tarifa, ou definiu uma tarifa de metade do que os EUA “sofrem” do país — a exemplo da UE. O Brasil aparecia como tarifando 10% e nova tarifa sendo equivalente, também de 10%. Veja:

(Imagem: White House)

O anúncio rapidamente fez o mercado reagir na quinta-feira, com fortes baixas de empresas que dependem de produtos importados. Se as tarifas mantivessem, o custo deles subiria e a demanda cairia.

  • Nvidia caiu quase 8%, Tesla caiu mais de 5%, Apple caiu mais de 9%, Gap caiu mais de 20%, Nike caiu mais de 14%, Adidas caiu quase 12%.

Mas não parava por aí… Em seguida, a China anunciou uma retaliação, impondo tarifas extras de 34% aos produtos americanos — indicando que a postura da segunda economia do mundo será combativa.

Foi aí que se confirmou a pior semana do S&P500 desde o crash da COVID, com US$ 5,5 trilhões evaporados da Bolsa americana só nos dois últimos dias da semana.

Mas o que está por trás das tarifas de Trump…

O sócio-fundador do Hub Investidor, Jayme Simão, escreveu de maneira bem clara os principais aspectos (e consequências) das tarifas do Trump:

Trump relançou sua agenda tarifária com um plano de três pilares:

1) Negociação geopolítica: tarifas como ferramenta de pressão em temas estratégicos.

2) Reindustrialização americana: proteger setores como aço, semicondutores e veículos.

3) Ajuste fiscal: elevar arrecadação via importações, com o novo External Revenue Service.

O melhor cenário? Países sentam à mesa e reduzem suas tarifas — e Trump, como prometeu, retira as suas.

Mas o risco é o oposto: falta de acordo com China, México, UE… e o resultado pode ser desaceleração global e inflação.

Até aí, ok. As reações do mercado são justamente a essas duas possíveis consequências — no caso, bem mais à segunda.

Mas ainda há algo pouco falado em relação às tarifas que vai gerar muito impacto para a economia americana e que provavelmente foi um grande motivo para Trump tomar a decisão que tomou. Vamos lá.

Ao todo, US$ 9,2 trilhões em dívida dos Estados Unidos vencem em 2025 — quase 40% do montante da dívida total.

Na prática, a maior parte desse valor deve ser renegociada para frente, sendo transformada em títulos de 10 anos.

Pense que cada queda de 1 ponto-base nas taxas de juros futuros economiza aproximadamente US$ 1 bilhão/ano; então, uma queda de 0,5% economizaria US$ 500 bilhões ao Estado americano ao longo de uma década.

“O que as tarifas têm a ver com isso?” Muito simples. Tarifas tem causado incertezas. Investidores saem da Bolsa e alocam seu capital em… Treasuries de longo prazo.

Bom, se a demanda por Treasuries aumenta, a taxa diminui. Logo, os juros que o Estado Americano vai pagar por todos esses trilhões de dólares em dívida diminui também — gerando uma economia bem considerável nesse refinanciamento.

Fora isso, lembre-se que tarifas são tarifas… Ou seja, dinheiro pago ao Estado. Junto do trabalho de corte de gastos feito por Musk, as tarifas devem gerar algum impacto a mais em receita. Já estima-se algo em torno de US$ 700 bi, com o cenário atual.

Como cereja do bolo, Trump ainda consegue trazer a pauta “tarifas” para a mesa e fazer diversos países quererem negociar com ele, uma vez que a demanda da economia americana é essencial para várias outras economias.

  • 🇹🇼 Taiwan já ofereceu aplicar a taxa zero caso haja reciprocidade dos EUA;

  • 🇻🇳 Vietnã já sinalizou que quer conversar com Trump para negociar as tarifas;

  • 🇰🇭 Camboja, o país com a maior tarifa pela tabela, fez o mesmo movimento;

Mas isso também não significa que a situação está resolvida. Outros países, assim como fez a China, podem anunciar medidas de retaliação. Isso tudo é um grande risco para possivelmente aumento da inflação americana.

As tarifas devem, sim, bagunçar o comércio global. Até porque Trump tem o objetivo de fortalecer a indústria nacional, fazer empresas mudarem suas fábricas de outros países para os EUA.

  • Fazer empresas americanas crescerem (dentro dos EUA) em vez de facilitar a vida de empresas de fora que produzem fora, mas vendem para os EUA.

Mas isso não é da noite para o dia… Em outras palavras, no curto prazo, os consumidores americanos devem, sim, enfrentar preços mais altos.

Para fechar, uma visão interessante, de uma pessoa relevante…

Elogiando a postura do presidente de “elevar a importância de resolver esse regime tarifário injusto”, o investidor Bill Ackman escreveu que não acha difícil que Donald Trump possivelmente anuncie o adiamento das tarifas em algum momento. Veja o tweet aqui.

Segundo ele, a falta de tempo do presidente para negociar com tantos países e o curto prazo podem fazer Trump anunciar uma “pausa” estratégica. Cenas dos próximos capítulos…

🏗️ INDÚSTRIA: Indústria cai 0,1% em fevereiro | A produção da indústria brasileira recuou 0,1% de janeiro para fevereiro, enquanto atinge a marca de cinco meses seguidos sem crescimento, período em que soma perda de 1,3%. (Agência Brasil)

🌾 AGRONEGÓCIO: Pirataria de sementes de soja causa perdas de R$ 10 bi ao ano no Brasil | Na safra 2023/24, os produtos ilegais ocuparam 11% da área plantada no país, o equivalente às lavouras em Mato Grosso do Sul. (the news)

🍽️ SERVIÇOS: Setor de serviços subiu em março | O PMI de serviços do Brasil subiu de 50,6 em fevereiro a 52,5 em março, leitura mais elevada desde novembro. (CNN)

🛍️ VAREJO: Taxa das blusinhas deixou prejuízo bilionário nos Correios | Mesmo com uma alta de 9,9% no setor, a taxa fez os Correios arrecadarem quase R$ 2,2 bi a menos. (Veja)

📣 Acionista pediu a convocação de assembleia para destituição do conselho do Grupo Pão de Açúcar (Times Brasil)

🟥 Jaguar Land Rover interrompe remessas para os EUA para avaliar impacto das tarifas de Trump (The Guardian)

🔙 Michael Klein propõe volta à Casas Bahia e compra ações (Valor)

🤝 BNDES e Petrobras firmam parceria para reflorestar a Amazônia e fortalecer o mercado de créditos de carbono (Times Brasil)

🛢️ Petrobras avança em processo para começar a explorar petróleo na Foz do Amazonas (Bloomberg Línea)

💰️ Suno capta R$ 166 mi para fundo de energia limpa listado na B3 (Valor)

📜 Governo do Paraná lança Fiagro para financiar até R$ 2 bilhões ao agronegócio (Valor)

Segunda, 07/04: Boletim Focus, dados da Balança Comercial Nacional; Divulgação da Balança Comercial da Alemanha; lançamento dos números do Crédito do Consumidor pelo Fed;

Terça, 08/04: Divulgação da Dívida Bruta/PIB e Superávit Orçamentário; na Nova Zelândia, decisão da Taxa de Juros;

Quarta, 09/04: Dados da Inflação de SP pelo Fipe; divulgação do Fluxo Cambial; nos EUA, divulgação da ata da FOMC; na China, divulgação do IPP; no México, divulgação do IPC;

Quinta, 10/04: Divulgação da Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE; no México, Banco Central divulga a ata de decisão de política monetária; nos EUA, divulgação do IPC e dos Pedidos Iniciais por Seguro-Desemprego;

Sexta, 11/04: No Brasil, divulgação do IPCA; na Alemanha, será divulgado o IPC; nos EUA, será divulgado o IPP — Índice de Preços ao Produtor (previsto para ficar em 0,2%).

Buffett foi o único TOP-10 bilionário que não perdeu patrimônio no ano, mas Musk segue no topo

Para os amantes do CDI…

— Por Leonardo Otero via X

Entre 2005 e 2011, houve uma janela excepcional de retorno para o CDI, com ganhos de 22,65% ao ano em dólar.

No entanto, chama muito a atenção que, desde 2011 até hoje, o mesmo CDI em dólar tenha apresentado zero de retorno. Na minha opinião, é pouco lógico obter um retorno muito elevado, em moeda forte, ao emprestar dinheiro para um país emergente.

Às vezes, a janela é favorável e funciona, mas no approach buy and hold — ain't free LUNCH. Mais fácil compra os BONDS já em USD.

Linha azul: CDI índice em BRL

DOLLAR BILL // THAT'S ALL, FOLKS

BECAUSE MONEY MATTERS. A leitura semanal obrigatória para gestores, traders e CEOs. Toda segunda-feira na sua caixa de entrada.