01/12/2024 | edição #0024

Quote: “Estamos ferrados. O empresário que investir dinheiro com esses juros vai quebrar. Isso vai gerar uma inflação de demanda, porque não vai ter produto” — CEO da Cosan, em encontro com Galípolo

Stat of the week: R$ 6,00 | O patamar recorde que o DOLLAR bateu na última semana

Read: Governo não entregou solidez fiscal, e investidor está desistindo do Brasil (Entrevista Marcos Lisboa na Folha de SP)

VARIAÇÕES SEMANAIS | COTAÇÕES PRÉ-MERCADO (SEXTA-FEIRA 22H)

Lula e Haddad chutam o balde do fiscal para colocar dose de populismo

Corte? Que nada. Depois de prolongar por mais de um mês um anúncio de corte de gastos para controlar o fiscal, o governo federal resolver fazer do anúncio um momento populista.

  • Fernando Haddad foi à TV para fazer um discurso de 7 minutos anunciando suas “medidas fiscais” — que tinham corte de menos e populismo de mais.

O que seria uma dura, porém necessária, notícia, virou motivo de momento de muita comemoração por parte da base do governo, com o anúncio da isenção do imposto de renda para quem recebe até R$ 5.000, uma medida que, na verdade, gera ainda mais impacto fiscal na direção de déficit.

No fim do dia, o governo parece ter tentado colocar a “população/classe trabalhadora” a favor do anúncio, já sabendo que o “mercado” faria críticas ao anúncio — conseguindo mais uma vez politizar um tema que não deveria ter discussão política, mas discussão técnica, prática e objetiva.

Ok… Mas quais foram as medidas desse pacote?

No discurso, Haddad gastou mais tempo falando de números positivos da economia e da isenção do IR do que, de fato, de como seria feito um contingenciamento dos gastos.

Na manhã seguinte, quinta-feira, junto à Simone Tebet, o ministro da Fazenda detalhou em entrevista coletiva alguns pontos, mas ainda deixou outros totalmente em aberto.

O principal deles parece ser a limitação do crescimento do salário mínimo para alinhar o crescimento dele ao ajuste do arcabouço fiscal: ganho real (acima da inflação) entre 0,6% e 2,5%.

Ainda há outros pontos de controle de gastos, como no Fundeb, na possibilidade de bloqueio de Emendas para cumprir o Arcabouço Fiscal, no teto do Abono salarial para 1,5 salário mínimo gradativamente, criação da idade mínima para aposentadoria de militares, etc.

Veja cada um no detalhe dando zoom na imagem:

Reparou o que o editor reparou? Nenhuma das linhas traz, de fato, um CORTE de gastos efetivo. Na prática, todas elas, ao menos as que já foram detalhadas, trazem um CONTROLE, ou seja, apenas limitam crescimento dos gastos, o que é bem diferente de reduzir os custos da máquina pública.

🦀 É como se você estivesse falando para o seu filho que a mesada dele não vai mais crescer tanto em 2025. Ou seja, o custo atual continuará, só não crescerá tanto quanto nos anos anteriores. “Corte carangueijo”.

Ainda assim, o que o governo está vendendo é um “corte” de até R$ 70 bilhões, sendo R$ 30 bi no próximo ano e mais R$ 40 bi no seguinte.

Falando de maneira prática

Apesar do governo ainda prometer o déficit zero — na cara de pau mesmo —, a realidade é bem diferente. O gráfico abaixo da previsão do percentual da dívida/PIB mostra muito bem isso.

  • 🟨 Em amarelo pontilhado: o prometido.

  • 🟥 Em vermelho pontilhado: o revisado.

  • 🟦 Em azul pontilhado: expectativa do mercado.

  • ⬛️ Linha azul escura: A realidade até agora

(Fonte: Goldman Sachs)

Em outras palavras, se o pacotão do Haddad acontecer do jeito que está, é praticamente inviável dessa curva chegar na nova meta fiscal — e quiçá na própria previsão do mercado.

Mas, antes, precisa passar no Congresso... Santo Congresso!

As esperanças e orações do mercado estão no Congresso ou, mais especificamente, nos nomes de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco.

Ao que parece, os dois já entenderam a dimensão da bomba que o governo criou e já deram indícios de que a proposta — pelo menos como está — terá muita dificuldade de passar.

  • Arthur Lira: “(…) Qualquer iniciativa governamental que implique em renúncia de receitas” terá uma análise “cuidadosa e realista” das fontes de financiamento. “Uma coisa de cada vez. Responsabilidade fiscal é inegociável”. (Veja aqui)

  • Rodrigo Pacheco: “(…) Esse pacote deve ser visto como o início de uma jornada de responsabilidade fiscal. A questão de isenção de IR, embora seja um desejo de todos, não é pauta para agora e só poderá acontecer se tivermos condições fiscais para isso. (…)” (Veja aqui)

Aliás, foi isso que minimizou a semana desastrosa do Ibovespa, que reverteu a tendência de queda na sexta-feira e fechou em alta de 1,07%, aos 125.948 pontos no dia. Ainda assim, na semana, o índice fechou em queda de quase 3%.

Na mesma linha, o DOLLAR teve uma semana MA-RA-VI-LHO-SA…….. para quem já tirou todo o dinheiro do Brasil. Alta de 4% e beirando os R$ 6,00 — que já estão pedindo passagem agora.

Tem alguma esperança à vista?

Os deputados Pedro Paulo (PSD-RJ), Kim Kataguiri (União-SP) e Júlio Lopes (PP-RJ) construíram uma PEC alternativa ao projeto enviado ao Congresso pelo governo que parece ser mais realista ao tamanho desastre que chegou o cenário fiscal do país.

O texto acaba com a vinculação ao salário mínimo de benefícios previdenciários e assistenciais, extingue as indexações à receita tributária dos gastos em saúde e educação, limita as emendas parlamentares e restringe os valores dos ‘supersalários,’ entre outras medidas. A economia estimada em R$ 1,1 trilhão até 2030. 

Resta saber se o Congresso vai conseguir fazer o seu papel mesmo de botar ordem na casa, ou se as opiniões de Lira e Pacheco serão rapidamente mudadas com um convite de Lula para um cafezinho entre amigos no Planalto.

Segunda, 01/12: Relatório Focus, que vai mostrar melhor a reação do mercado após pacotão fiscal, Índice PMI da indústria pelo S&P Global; Na Europa, sai a Taxa de Desemprego da Zona do Euro.

Terça, 02/12: PIB do terceiro trimestre; Nos EUA, sai o Relatório JOLTS, que fornece dados sobre vagas de emprego e taxas de rotatividade;

Quarta, 03/12: Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, seguida pelo Índice PMI Composto do S&P Global; Nos EUA, divulgação do Livro Bege, com uma análise detalhada sobre as condições econômicas em cada distrito do Federal Reserve e o relatório ADP, oferecendo uma prévia da criação de empregos no setor privado

Quinta, 04/12: Balança comercial (nov) do Brasil e dos EUA; Vendas no varejo na Zona do Euro;

Sexta, 05/12: Por aqui, sai o IGP-DI, indicando o indicador do movimento de preços na economia; Nos EUA, sai o Payroll, revelando o número de empregos criados, a taxa de desemprego e o crescimento dos salários; Na China, sai o Índice de preços ao produtor.

Trump ameaça taxar países do BRICS em 100%

“Don't mess with the dollar.” Donald Trump já deu a palavra. Se os BRICS cogitarem buscar uma moeda alternativa ao dólar para fazerem as negociações entre si, os Estados Unidos vão impor uma tarifa de 100% sobre todos os produtos vindos dos países do bloco. Segundo o POTUS, o projeto já está na mesa dele pronto para ser criado.

  • No último encontro do BRICS, em outubro, os líderes do bloco, liderados por Putin no encontro, reforçaram a ideia, com o presidente russo, inclusive, levando uma cédula simbólica da moeda como proposta.

Enquanto isso, o próximo presidente do bloco é justamente o Lula, que já disse que essa é “uma discussão que não pode ser adiada”. Hoje, a moeda americana é usada em quase 90% de todas as transações entre países.

PS: As moedas dos BRICS vs. o DOLLAR nos últimos 12 meses

BC pode passar a regular atividade de câmbio com criptoativos

O Banco Central iniciou na sexta-feira uma consulta pública para tratar sobre a regulação da atividade das prestadoras de serviços de ativos virtuais, chamadas de PSAVs, no mercado de câmbio.

  • Pela proposta, empresas vão precisar de autorização para operar no mercado de câmbio se forem negociar stablecoins.

O objetivo da proposta, diz o BC, é dar maior segurança jurídica para a prestação desses serviços e aumentar a competitividade e eficiência do mercado de câmbio “mediante aplicação de regulação proporcional ao risco de atividades”. Aprofunde aqui se quiser.

Ayrton Senna com Adriana Galisteu

DOLLAR BILL // THAT'S ALL, FOLKS

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